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Entrevista com as três fundadoras de "La Malhablada", microteatro em Salamanca
La Malhablada é um centro cultural destinado ao microteatro e à arte contemporânea, situado no centro histórico de Salamanca. É uma antiga vivenda de 1908, reabilitada como espaço cénico. Um edifício com três andares, 5 quartos e um bonito café com terraço e vista para a Clerecía. Estivemos à conversa com as três fundadoras, Glória Hernández Serrano, Paz Pedraza Ruiz e Sonia Díez Santos.
Como nasceu La Malhablada? Podem falar um pouco de vocês e do vosso percurso profissional?
La Malhablada nasceu da necessidade de proporcionar um espaço cultural e interdisciplinar à cidade de Salamanca e, em paralelo, da obrigação de trazer mais criatividade às nossas vidas.
A equipa fundadora é composta por 3 sócias:
Gloria Hernández Serrano, Cenógrafa e Diretora de Arte
Trabalhou em inúmeras produtoras audiovisuais e companhias de teatro, desenvolvendo projetos de design de espaço cénico para diversas longas-metragens, documentários, videoclips, spots publicitários, séries de televisão, peças de teatro e peças de dança contemporânea. São várias as bolsas e prémios obtidos e inúmeras as exposições de arte contemporânea nas quais participou. Estas atividades permitiram-lhe evoluir no ramo do design gráfico, criando produtos para grupos musicais, material de eventos e design de marca corporativa para novas empresas. Paralelamente, desenvolve uma ampla atividade como docente no Mestrado de Arquitetura e Design de Interiores da Universidade de Salamanca e na faculdade de BBAA, onde leciona em cursos, seminários e workshops de cenografia aplicada à arte contemporânea. A sua especialização faz com que grupos e entidades com o CITA, o Medialab, a USAL TV, a Escola Superior do Espetáculo de Madrid ou a Faculdade de Belas Artes de Salamanca contem com ela como conferencista em seminários destinados à arte, ao cinema, ao teatro, ao design de moda ou à publicidade.
Paz Pedraza Ruiz, Arquiteta autónoma e no exercício da profissão desde 2005, através do design de projetos de arquitetura e restauração e reabilitação arquitetónica.
Trabalhou em intervenções no património histórico, arquitetónico e arqueológico, para particulares e diferentes administrações públicas. Gestora cultural com especialização em património cultural, gestão territorial e turística e conjuntos históricos. É coordenadora académica do Mestrado em Avaliação e Gestão do Património Cultural da Universidade de Salamanca, e oradora no mesmo, ministrando aulas relacionadas com os novos usos do património arquitetónico e estratégias de gestão do património cultural. É orientadora de projetos de fim de Mestrado nas mesmas áreas. Colaboradora e oradora no Mestrado em Turismo de Interior, no Título de Especialista em Cooperação Transfronteiriça e no MBA em Gestão de Empresas Culturais, todos eles pertencentes à Universidade de Salamanca. Foi assessora do Instituto do património Cultural Espanhol (IPCE, Ministério da Cultura) na redação do Plano Nacional de Arquitetura Defensiva. Em 2007 criou a empresa Vettonia Arquitectura y Gestión S. L., cujo objetivo era a assessoria em matérias de patologia da edificação e gestão de obras relacionadas com a reabilitação, resolução de problemas, etc. A empresa esteve em funcionamento até 2011. Tem experiência em gestão e coordenação de tarefas, assim como em gerir os procedimentos administrativos habituais no desenvolvimento da atividade empresarial. Desenvolveu uma vasta experiência na organização de programas e projetos de cariz cultural.
Sonia Díez Santos, Arquiteta autónoma no exercício da profissão através de design de projetos de arquitetura, decoração de interiores, composição urbana, design de mobiliário e desenvolvimento de concursos de arquitetura.
Ganhou o Concurso Fundação Caja de Arquitetos 2005, onde conseguiu um bolsa de trabalho nos Ateliers Jean Nouvel em Paris. Participou como presidente do júri nos dois festivais Escapararte de Salamanca, iniciativa do Mestrado em Arquitetura e Design de Interior (MADin USAL) e com a Associação de Empresários Salmantinos do Comércio (AESCO), entre outros. De forma paralela, interessa-se pelas novas formas de expressão digital e a sua implicação na sociedade e no espaço arquitetónico. Tem um blog, 1979historiasquecontar, onde através de viagens, cinema, gastronomia, desenho de anotações e texturas, transmite aquilo que significa para ela a arquitetura. Em 2013 criou a empresa Eventos de Cuento, cujo objetivo é a organização e design de eventos de cariz lúdico na cidade de Salamanca.
O que é que vos levou a criar La Malhablada? Podem descrever-nos o caminho percorrido até à sua criação?
La Malhablada nasceu numa tarde, veio sozinha e pôs-se à nossa frente. Sabíamos que tínhamos que fazer alguma coisa, não podíamos ficar de braços cruzados nesta cidade que consideramos um centro cultural.
Assim nasceu a ideia, importada de Madrid (Microteatro por Dinero, La Casa de la Portera, El Sol de York,...).
O passo seguinte foi falar do espaço, este tipo de propostas precisa de um espaço concreto, e além disso queríamos que fosse um lugar com encanto e em pleno centro da cidade, para nos podermos assegurar da presença do público.
E então apareceu! A sede de atividades passou a ser uma vivenda construída em 1908. Um edifício de três andares que conserva a sua configuração original e a sua estética, de tal forma que se mantêm os espaços próprios de uma casa com alma modernista. Conta ainda com um terraço com uma vista privilegiada para a Clerecía e a Calle Compañía.
Uma vez conseguido e negociado o espaço, começaram as reuniões com a Câmara, a constituição da Sociedade Limitada e a criação da atividade cultural fora do espaço físico, na altura.
Até agora, realizámos um sorteio, em que oferecíamos um fim de semana no Castelo de Buen Amor, a venda de rifas é feita à porta do edifício, o que serviu para nos darmos a conhecer, para envolver as pessoas no projeto e para criar expetativa. Além disso, lançámos um concurso de microteatro, que termina a 10 de dezembro, e o prémio são €200 para cada modalidade (adulta e infantil), e a possibilidade de atuar durante o mês de abertura do espaço. Por último, temos planeada uma festa de apresentação da campanha de crowdfunding, será a 30 de novembro e contará com diversas atuações ao vivo de microteatro, perfopoesia e música, que reflitam o espirito criador de la Malhablada.
O que é o microteatro?
Trata-se de um teatro de formato reduzido. Acontece em salas ou quartos pequenos, de 15-20 m2, as peças não ultrapassam os 15 minutos de duração e o público é constituído no máximo por 15 pessoas.
A experiência de sentir as respirações dos atores por parte dos espetadores, e vice-versa, é única. A grande conquista neste tipo de propostas é que o espetador se sente dentro da cena, como sendo mais um “ator” da história, aquele que observa e escuta. Numa peça teatral inconvencional também se desfruta de um jogo de realidades, porque apesar de sabermos que somos observadores, o facto de sentirmos que estamos dentro da cena faz com que tenhamos de nos reposicionar constantemente na situação de mero observador.
É atrativo, é diferente em aspetos tangíveis, e é de destacar que é mais simples e económico, já que este formato não requer sonorização, iluminação teatral, e também não exige uma cenografia completa, mas sim mobiliário e adereços comuns.
Qual é o vosso próximo projeto com La Malhablada? De que precisam para o levar a cabo?
O nosso próximo projeto é participar ativamente no Festival Miradas de Mujeres, planeámos um evento artístico para todo o mês de março que gira em torno do documentário “Por la Flor de la Canela” (selecionado entre os 10 finalistas para melhor curta-metragem documental para os prémios Goya 2014), cujo tema principal é a violência de género através do cancioneiro popular.
Como atividades teremos uma exposição do storyboard e das colagens que ilustram o documentário, realizados por Gloria Hernández Serrano, diretora de arte de “Por la Flor de la Canela”. Faremos, além disso, um visionamento da curta-metragem e um debate com María Sánchez Testón (realizadora de “Por la Flor de la Canela”) e Gloria Hernández Serrano, ambas refletirão sobre o processo criativo e sobre a capacidade da violência sexista para disfarçar-se de canção.
Quais são os vossos objetivos com La Malhablada? O que é que querem alcançar com o projeto?
Os nosso objetivos gerais são, principalmente, fomentar a cultura para todos os públicos, oferecer à cidade uma atividade artística e cultural continuada, proporcionar um espaço aos artistas da cidade e implementar um sistema de criação artística e de baixo custo.
Amadurecemos uma série de objetivos específicos, ou linhas estratégicas, que consistem no desenvolvimento de uma programação mensal de microteatro tanto para adultos como para crianças (sábados e domingos de manhã), uma exposição mensal na zona do café (projetada como espaço expositivo), a inclusão de semanas temáticas coincidindo com eventos reconhecidos, a oferta de um espaço de uso multidisciplinar, onde tenham lugar tertúlias literárias, apresentações de livros, reuniões comerciais ou debate entre artistas, entre outras.
Por outro lado, estabelecemos uma colaboração com as Universidades. Serão realizadas experiências de referência com o Mestrado em Arquitetura e Design de Interiores e com o Mestrado em Avaliação e Gestão do Património Cultural, nas quais participarão os membros da direção do centro.
Mas isto não é tudo, La Malhablada está aberta a colaborações externas com todo o tipo de instituições públicas e privadas, fundações e associações de qualquer natureza, que desejem realizar atividades fora do centro. Queremos constituir-nos como uma referência na cena da criação artística contemporânea, e como empresa de gestão cultural e criadora de ideias, eventos e relações bilaterais de participação.
O que é que procuram neste momento?
Procuramos peças de microteatro ou obras cénicas de formato reduzido, assim como microdança, micromagia, etc... Por outro lado, procuramos obra gráfica ou pictórica para expor, ideias diferentes e criativas relativas à atividade cultural. Qualquer iniciativa ou evento artístico que possa ser realizado no espaço pode interessar-nos.
Como descreveriam a vida cultural em Salamanca? Quais são, na vossa opinião, os coletivos, organizações, associações que mais se movem na cidade?
Salamanca é uma cidade onde o intercâmbio de culturas e o interesse pelas artes cénicas é notório em espaços e eventos aparentemente alternativos da vida sociocultural da cidade.
A cidade acolhe por ano mais de 30.000 estudantes, sejam universitários ou de língua estrangeira. Isto por sua vez gera um número de visitas que poderiam quantificar-se em cerca de 60.000 por ano. Com estes números, entende-se o intercâmbio cultural que faz parte da cidade, pessoas de todos os cantos do mundo estabelecem-se em Salamanca, cada um com os seus interesses próprios e a sua atividade artística concreta.
Existe, por isso, uma procura crescente por parte da população de Salamanca de infraestruturas culturais ativas, acessíveis e participativas, e nos tempos que correm não se pode descartar a responsabilidade de fomentá-la nos organismos públicos. Acreditamos na rentabilidade da atividade cultural, gerida acertadamente e com um estudo pormenorizado das necessidades que esta requer.
Quanto a organismos públicos, encontramos 3 que são significativos no que diz respeito à atividade cultural, La Casa de las Conchas, o Museo de Arte Contemporáneo de Salamanca (DA2) e o teatro Juan del Enzina,,com uma programação constante, variada e de qualidade. Quanto a iniciativas privadas, salientamos os cines Van Dyck, e diversos bares como o Irish Rover, o Rastrel ou o Malabar. No que se refer a centros docentes, destacamos Un Punto Curioso, Plan b, Escuela Dacapo, Escuela Monk, Talleres Navi y Espacio Cubo. Por outro lado, existem associações vinculadas ao mundo da arte e da cultura, como La Lata Muda y Parte con Arte.
Querem deixar alguma mensagem aos leitores de The Art Boulevard?
Venham conhecer-nos e criar. Convidamo-vos a participar num espaço que acredita fervorosamente na criatividade e na ilusão como forma de vida!
